28 de dezembro de 2012

Cientistas debatem se vivemos nova época geológica



GIOVANA GIRARDI - O Estado de S.Paulo

Há quem diga que seria o último ato da arrogância humana: tornar oficial nos registros geológicos que ações antropogênicas - aquelas que são induzidas ou alteradas pela presença e atividade do homem - já causaram, e ainda causarão, tamanho impacto nos ciclos naturais do planeta que são suficientes para marcar o surgimento de uma nova época na escala de tempo da Terra.
É exatamente o que está sendo discutido por um grupo de trabalho de cientistas na Comissão Internacional de Estatigrafia - a disciplina que analisa as marcas da passagem do tempo no planeta. Segundo dados oficiais, estamos há cerca de 12 mil anos em uma época chamada Holoceno, iniciada após o fim da última era do gelo e caracterizada por uma relativa estabilidade climática.
Mas o grupo analisa as evidências científicas para poder dizer se o impacto das ações humanas foi significativo o bastante para dar início a uma nova época, chamada Antropoceno. A ideia foi lançada no início deste século pelo químico Paul Crutzen, do Instituto Max Plank, que recebeu o Nobel de Química em 1995 por seus estudos sobre a camada de ozônio na atmosfera.
Desde então o termo conquistou popularidade e valor simbólico, sendo usado arbitrariamente para definir as transformações que o planeta vem experimentando por causa das ações humanas. A pergunta que os cientistas tentam responder é se essas transformações são tão relevantes e profundas quanto às promovidas pelas grandes forças da natureza.
"Classificar o Antropoceno como uma nova época geológica é uma caracterização que depende da observação de uma mudança nos registros geológicos, como, por exemplo, no padrão de sedimentação em escala global", explica o climatologista Carlos Nobre, único brasileiro - e um dos poucos não geólogos - que faz parte do grupo de trabalho.
É um processo muito lento, de anos, talvez décadas, admite Nobre. "Não muito diferente de quando os astrônomos começaram a discutir o caso de rebaixar Plutão da categoria de planeta."
"Com o aumento do nível do mar, haverá um outro padrão de depósito de sedimentos. Onde hoje é continente vai virar fundo do mar, então um dia alguém perfurando essas regiões vai ver areia. Ao datar, vai ver que é do ano 2000 e indo um pouco mais ao fundo encontrará uma rocha que tem milhões de anos. Isso é uma mudança do parâmetro geológico", exemplifica Nobre.
Por isso, é de se questionar se é possível identificar uma mudança de época bem quando ela está ocorrendo - todo o conhecimento sobre a história do planeta se deu nos últimos três séculos com base nos estudos de camadas de sedimentos das rochas e das geleiras acumulados ao longo de milhões de anos.
Sinais precursores. Segundo Nobre e outros pesquisadores da mesma linha, porém, sinais precursores já podem ser observados nos dias de hoje. É justamente a velocidade das ações humanas que talvez permita essa análise quase simultânea. A corrente mais forte entre os pesquisadores coloca como início do Antropoceno a Revolução Industrial (no final do século 18), que trouxe o uso dos combustíveis fósseis para mover máquinas e é o marco da aceleração das emissões de gases de efeito estufa.
Essa nova marcação no tempo, porém, não se restringiria ao aquecimento global, mas às mais diversas ações humanas impulsionadas pelo aumento populacional, como perda de habitats, mudança no uso do solo, sobre-exploração dos recursos naturais, causando, por exemplo, perda de biodiversidade, acidificação dos oceanos e perturbação dos ciclos naturais.
É nesse último ponto que assentam as evidências mais robustas do impacto humano. Diversos estudos nos últimos cinco anos apontam para uma mudança nos ciclos de carbono, nitrogênio e fósforo, além do hidrológico.
Uma das pesquisas mais citadas é a liderada pelo hidrólogo sueco Johan Rockström, que junto com uma equipe de 28 cientistas publicou em 2009, na revista Nature, que a humanidade já ultrapassou três de nove barreiras do planeta que mantêm o sistema funcionando como o conhecemos. O rompimento desses pontos pode modificar esse equilíbrio a um ponto sem mais chance de retorno.
O trabalho afirmava que já foram transpostos os limites da biodiversidade, da mudança climática e do ciclo de nitrogênio, por causa do uso excessivo de fertilizantes. Três anos depois se considera também como superado o limite do fósforo. O de carbono está próximo de ser atingido. Hoje as emissões anuais passam de 40 bilhões de toneladas de CO2.
"Esse sinal pode até aparecer pequeno quando comparado ao ciclo do gás. Todo ano há uma troca de CO2 entre os oceanos e a atmosfera, entre a vegetação e a atmosfera, na faixa de 170 bilhões de toneladas de carbono. Multiplicando isso pelo peso molecular do CO2, passa de 600 bilhões de toneladas. Só que o nosso sinal é cumulativo. Portanto, em menos de um século, vamos ter o dobro de CO2 na atmosfera. Estaremos com outra composição da atmosfera, com outro equilíbrio climático - que será o planeta muito mais quente", diz.

14 de dezembro de 2012

Desertificação – uma nova ameaça



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O aquecimento global e os buracos de ozônio estão ficando para atrás na história. Um novo fenômeno está preocupando os ambientalistas e cientistas de todo o mundo: o aumento dos desertos. A cada ano que passa, a área de territórios impróprios para a agricultura e vida está aumentando. A ONU, que começou a lutar contra a desertificação em 1977, não consegue parar este processo.

De acordo com os cálculos dos cientistas, a cada minuto o homem causa a desertificação de 23 hectares de solo. A culpa não é só da indústria de extração e da agricultura, mas também da falta de trabalhos de preservação e restabelecimento. No nível atual da ciência, o homem é capaz de melhorar a situação nos desertos. No entanto não faz nada para isso, disse o vice-presidente da organização ecológica Cruz Verde, Alexander Tchumakov:
"Na zona desértica e semiárida, a humidade que se encontra no ar é suficiente para resolver todos os problemas. No entanto, não há condições para esta humidade se condensar. Por isso, ela passa pelo deserto sem se precipitar, ou se precipitando raramente. Além disso, não há condições para aparecimento de nuvens. No entanto, o homem pode contornar esta situação, como a França fez na Argélia, ou como Israel faz no seu território. Lá, no deserto de Neguev, existe um campo de criação de nuvens artificiais, o que faz com que chova nestes territórios."
A desertificação é um problema para várias regiões. As zonas mortas começaram a aparecer nos EUA, nos países asiáticos. A pior situação, obviamente, está na África. Lá, a área dos desertos aumenta a uma velocidade assustadora. Além disso, a situação é agravada pela seca dos reservatórios naturais. Há vários projetos que visam protegê-los da seca. No entanto, até agora tais planos permanecem no papel.
O problema ecológico começa a se transformar em social. Se o crescimento dos desertos continuar, vários países da África Central poderão ser compostos somente por terras mortas. Desta forma, o número de refugiados ecológicos irá ultrapassar as fronteiras dos estados vizinhos. Desta forma, será dado início à um novo fenômeno político e social.