13 de novembro de 2012

O drama do entulho eletrônico


A obsolescência programada, que faz tudo ficar velho antes da hora, é o alimento para um dos grandes problemas ambientais de nosso tempo



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Nos movimentados portos de Karachi, no Paquistão - o homônimo Karachi e Qasim -, cargueiros provenientes de Dubai transportam contêineres com peças velhas e quebradas de computadores. O lixo eletrônico recolhido vem dos Estados Unidos, Japão, Austrália, Inglaterra, Kuwait, Arábia Saudita, Singapura e Emirados Árabes.

Esse material (carcaças de discos rígidos, monitores, impressoras ou mesmo aparelhos inteiros) é reciclado no bairro de Sher Shah, onde se separa o joio do trigo. Ali, mais de 20 000 pessoas vivem da reciclagem, que é feita sem cuidados com o meio ambiente ou com a saúde. Sher Shah tem o mais alto índice de casos de câncer de pulmão e de problemas respiratórios do país, por causa da inalação de gases tóxicos, emitidos durante o processo de separação das peças. "O quilo de metal extraído na reciclagem do lixo eletrônico é comercializado a 120 rupias, ou 1,40 dólar", diz Madhumita Dutta, da organização Toxics Link India. Em Gana, na África, o quadro é semelhante.

O subúrbio de Agbogbloshie, da capital do país, Acra, é talvez o maior aterro eletrônico do mundo. É chamado pelos moradores de "Sodoma e Gomorra". No local, gangues fazem pente-fino em drives de computadores, laptops, palmtops, tablets e smartphones provenientes dos Estados Unidos e da Europa, em busca não só de material a ser vendido, mas também de informações sigilosas dos antigos proprietários. Os dados, que permanecem em geral intactos no computador, mesmo obsoleto, são usados depois em golpes pela internet. "O lixo eletrônico é um dos problemas de mais rápido crescimento no mundo", disse a VEJA a consultora Leslie Byster, da ONG International Campaign for Responsible Technology (Campanha Internacional pela Tecnologia Responsável).

O MAPA-MÚNDI DO FERRO VELHO, as idas e vindas do chamado e-lixo (em toneladas por ano)

Apesar de a Convenção de Basileia, na Suíça, em 1989, ter proibido o movimento entre fronteiras de resíduos perigosos (entre os quais as sobras eletrônicas), a legislação e notoriamente driblada pelos exportadores de traquitanas com chip, que etiquetam a carga como doação de equipamentos usados. O relatório ambiental de 2010 da ONU sobre lixo tecnológico calcula que são produzidos anualmente 50 milhões de toneladas. O relatório também prevê que o volume de dejetos procedentes de computadores abandonados crescera 500% em países como Índia, China e África do Sul ate 2020. O Brasil, o México e o Senegal são, entre as nações em desenvolvimento, os campeões mundiais de e-lixo per capita, com 0,5 quilo anual produzido por habitante.

O quadro brasileiro pode ser ainda mais grave. Segundo a professora Wanda Gunther, da Faculdade de Saúde Publica da USP, faltam dados e estudos nacionais amplos sobre o problema. mas o crescimento econômico fará aumentar a podridão eletrônica, em um caminho natural — e saudável, ate que provoque sujeira — do capitalismo. As pessoas tendem a trocar seus produtos, passando a frente os já velhos e ultrapassados. Querem o novo, e o destino final do que já não presta, ou não tem interessados na cadeia econômica, e o descarte
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